terça-feira, 28 de julho de 2009

LUIZ OTÁVIO OLIANI POR ANTONIO MIRANDA

A POESIA DE LUIZ OTÁVIO OLIANI



http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/rio_de_janeiro/luiz_otavio.html



POEMAS DO LIVRO “FORA DE ÓRBITA”, DE LUIZ OTÀVIO OLIANI, EDITORA DA PALAVRA, RIO DE JANEIRO, 2007.



RESGATE

como posso resgatar
o que não existe em mim?
ao beijar a solidão
eu me dispo por inteiro
da escória que é o homem
na inútil tentativa
de ser Deus por um minuto




TERRITÓRIO

“O que não sei fazer desmancho em frases”
Manoel de Barros



brota em mim o verbo
com suas pessoas

desconjugá-las não posso

em mim
a palavra
se faz morada





HERANÇA

não deixo bens
aos que ficam

de mim
restará a palavra
(antes cinzel)
agora verso
a burilar os homens






DESCOBERTA

nada detém a vida

esvai-se o tempo
o tempo em mim

caramujo do imo
guardo porta-retratos

aqueço a memória:
a infância me foi roubada





PARTILHA

a mão estendida
abençoa o trigo

à procura do ponto
ágeis dedos
manipulam a massa
do mundo

mas a vida só faz sentido
quando se reparte o pão









LABUTA
A João de Abreu Borges

em sua própria vida
o homem finca raízes

atravessa árvores
mata fungos

sem olhar para trás
e perceber: os frutos

não mera consequência





BOEMIA

hoje a lua é verso
de loucos, de putas
e de poetas

hoje a lua é verso
prazer bêbado
regaço






COTIDIANO

há vísceras
em todos os lugares

quem se indigna
diante de quem sangra?



In: Fora de órbita, Editora da Palavra, 2007.











POEMAS DO LIVRO ESPIRAL, DE LUIZ OTÁVIO OLIANI, EDITORA DA PALAVRA, 2009.





MÃOS DESUNIDAS



não serei o poeta do passado

embora dele me alimente



canto o presente

que Drummond não vê



nada de serafins

cartas de suicida

- os homens aterraram

a palavra amor

num canteiro de obras



as mãos desunidas

traduzem: os espinhos

inda sufocam as flores





CASA



faço do silêncio

a morada do ser



não lhe digo

palavras duras

nem amorteço quedas



apenas guardo

a concha

em que abrigo

a solidão dos homens





FOME



ao roçar a boca da solidão

entre auroras e estrelas

mastigo minha dor



em que língua nos falamos?





RABO-DE-ARRAIA

A Igor Fagundes



ao som do berimbau

batuque ginga cadência



o poeta luta

capoeira

com a palavra






METEORITO


"O eterno é que me veste"
Astrid Cabral


não planejo escrever um versoele vem até mime explode em linguagemdomesticadonão fujo da sinase o poeta éimerso no coletivo,como usar o verbosem que representea si próprio? mesmo assimescrevoescrevonão para ser eternonem alcançar glórias escrevoporque sou instrumentoda palavra que Deus soprem meus ouvidos




NÁUTICA

A Olga Savary



navego

em tua essência



mergulho nos seixos

que te habitam

mas não naufrago



o mar nos pertence





TRANSFORMAÇÃO

A Antonio Carlos Secchin



toda linguagem

é selva

a ser devastada



toda linguagem

é terra

a ser adubada



toda linguagem

é pedra

a ser limada





REINADO


A Lêdo Ivo



enterra palavras

em alto-mar



como tesouro

às escondidas

qual pirata

faze das águas

a cidade de teus versos



FAXINA



a menina varre os dias

tenta limpar

a própria escória



como espanar o pó,

livrar-se do fardo?



longe daquela casa

passa o amor



ALTO- MAR


teias de solidão

no oceano



o navio não mais atraca



de nada servem

a âncora enferrujada

o mastro sem bandeira

a quilha

o radar



todos se foram



só o mar permanece

cúmplice dos desamores do mundo





LIÇÃO DE PORTUGUÊS

A Patrícia Blower



amar, verbo transitivo?
amar é verbo de ligação
entre dois sujeitos



in: Espiral, Editora da Palavra, Rio de Janeiro, 2009.





* Luiz Otávio Oliani cursou Letras e Direito. Consta em mais de trinta antologias de literatura. Participação intensa em eventos literários, jornais, revistas do País e do exterior. Recebeu mais de 50 prêmios. Publicou "Fora de órbita", Editora da Palavra, poesia, 2007, orelhas de Teresa Drummond e prefácio de Igor Fagundes; livro recomendado pelo Jornal de Letras, editoria dos acadêmicos Arnaldo Niskier e Antonio Olinto, em outubro de 2007. Em 2008, teve o poema "Teresa" musicado por Maury Santana no CD Música em Poesia, volume 1. "Espiral", com prefácio de Reynaldo Valinho Alvarez, orelhas de Astrid Cabral e foto do autor por Eloísa Batelli, é o segundo livro de poemas do escritor, publicação da Editora da Palavra, 2009. Tem poemas traduzidos para o inglês, francês, italiano e espanhol na Revista Ponto Doc número 7, edição de 2009.

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