quarta-feira, 18 de março de 2009

DIA 14/03/09, DIA NACIONAL DA POESIA - MATÉRIA DO JORNAL DIÁRIO DE NATAL - DOIS DIAS PARA A POESIA POR JOANA LIMA


17/03/2009 - 09:07 | Atualizada em: 17/03/2009 às 09:07 por Gabriel Trigueiro

Dois dias para a poesia
Joana Lima/DN

‘‘Me perdi! exclamava o poeta potiguar Dean de Sena ao recitar um de seus trabalhos para um grupo de turistas que visitava a Fortaleza dos Reis Magos na manhã do último sábado. Dean e as poetisas Auzer Freitas e Vivi Viana escolheram o quadricentenário ponto turístico para comemorar o Dia Nacional da Poesia. Os terraços superiores, a praça nobre e até os aposentos do capitão-mor viraram cenário para a ‘‘Alvorada Poética’’, que dividiu espaço com as explicações dos guias turísticos sobre a edificação militar do século 16 e arrancou aplausos dos surpresos visitantes.

Integrantes da Sociedade dos Poetas Vivos e Afins do Rio Grande do Norte, os artistas fizeram as declamações dentro da programação da Fundação José Augusto para a data. ‘‘A Fortaleza é um cenário muito poético. As celas e as grades onde homens estiverem presos séculos atrás guardam poesias adormecida’’, arriscou Auzer Freitas. Seu colega Dean, que recitou vários poemas de sua autoria ao longo da manhã, defende que o forte vire um ponto de encontro dos poetas potiguares. ‘‘O natalenses de modo geral precisa vir mais aqui’’, opinou. ‘‘Podemos fazer um sarau poético nas noites de luar’’, propôs Vivi, que foi aplaudida com seu poema ‘‘Saudades’’. Ela lembra que a atividade da Sociedade não se restringe às datas comemorativas. ‘‘Todas as manhãs de sábado recebemos poetas novos e antigos, para mostrar seus trabalhos, conversar sobre poesia. Nesses dez anos de atuação, temos revelado muitos autores de talento, inclusive entre os mais jovens. Esse pessoal precisa de mais visibilidade para sair do anonimato’’, pediu.

Paralelamente às declamações, a velha fortaleza também recebeu uma encenação do grupo de teatro Arte Viva, formado por jovens da cidade de Santa Cruz. Aproveitando a peculiar arquitetura do lugar, os atores promoveram uma reflexão sobre a arte na sociedade contemporânea, através de um diálogo travado entre personagens que, posicionados na praça nobre, conversavam com outros que surgiam de supetão nas janelas do piso superior da fortificação.

A programação prendeu a atenção da turista Elizabeth Silva, de Goiânia, que deixou de lado o passeio guiado pela fortaleza para acompanhar e fotografar a encenação dos autores do interior do Rio Grande do Norte. ‘‘Adoro poesia e acho que a data tem de ser cada vez melhor comemorada. Já morei na cidade de Goiás, terra da poetisa Cora Coralina (1889-1985), que é um personagem muito celebrado e centro das homenagens por lá na data de hoje’’, relembra.

A gaúcha Renée Nassif também parou para ver as declamações e o espetáculo. Diferentemente de grande parte dos turistas, que vestidos em roupas de banho ‘‘tropeçavam’’ no evento e não demonstravam muita intimidade com a arte da poesia, ela sentiu-se em casa. ‘‘Gosto tanto de poesia que tenho centenas de poemas declamados no meu celular’’, comentou, fazendo questão em seguida, de mostrar uma gravação do poema ‘‘Gracias por su atención’’, do chileno Pablo Neruda, lido pelo próprio autor. A gaúcha, que também é fã do trabalho de nomes como Vinícius de Morais, Carlos Drummond de Andrade e J.G. de Araújo Jorge, acha que a poesia é um gênero cultural ainda marginalizado frente a expressões de maior divulgação, como a música e a literatura. ‘‘Lá no Rio Grande do Sul temos um grande evento anual de poesia na cidade de Passo Fundo, que já ganhou importância nacional. No Brasil inteiro a poesia tem de ser mais divulgada, até porque hoje temos um meio super poderoso para a publicação, que é a internet’’, opinou.

Cordelistas também celebram data

A programação do Dia da Poesia também teve diversos eventos no centro da cidade. O Museu Café Filho recebeu a exposição Eternos Poetas. Após a apresentação na Fortaleza dos Reis Magos, o grupo Arte Viva encenou seu trabalho no Calçadão da Rua João Pessoa. O Beco da Lama recebeu o evento Feijão Poético, o lançamento da vigésima edição da revista Preá e a entrega do Prêmio Rubens Lemos, vencido pela jornalista Hayssa Pacheco, do Diário de Natal. O evento entrou pela noite com shows e declamações dos poetas Raul, Allan Sales, Miró e Antônio Francisco e o paraibano Jessier Quirino..

Pela manhã, cordelistas de Natal e outras cidades do Nordeste reuniram-se na Casa do Cordel, administrada pelo poeta Abaeté. Os artistas não se incomodaram com o fortíssimo calor que fazia no local e comemoraram seu dia com muitas leituras. O potiguar Izaias Gomes, o Catatau, lançou seu CD ‘‘Um catatau de cordéis’’, com uma seleção de 22 textos produzidos em quatro anos de carreira. ‘‘Comecei menino a ler e gostar da poesia popular. Hoje o cordel está em ascensão e é muito valorizado, sobretudo fora do Nordeste, por incrível que pareça. Eu mesmo já participei de vários eventos no Rio de Janeiro e em São Paulo’’, explicou o professor de filosofia e sociologia, que teve suas declamações acompanhadas pelo violão do artista pernambucano Ivan Sales, que veio do Recife especialmente para prestigiar o dia dos poetas na Casa do Cordel.

Outro que compareceu foi Manoel Silva, que está comemorando 45 anos de poesia popular. ‘‘Comecei a escrever com 13 anos de idade. Publiquei meu primeiro livro em 1985. Essa união entre os autores é fundamental para divulgar a cultura do cordel e manter a tradição’’, comemorou. Já a mossoroense Sirlia Sousa de Lima aproveitou o evento para divulgar seu recém-lançado livro ‘‘Quem vai carregar o pote?’’. ‘‘Espero que a poesia popular do RN ganhe cada vez mais autores. Quero lançar mais livros em breve’’, empolga-se.

O anfitrião Erivaldo Leite de Lima, o Abaeté, espera que as novas gerações deem prosseguimento à produção. ‘‘O cordel chegou no Brasil em 1500 e é mantido até hoje’’, constata o autor de mais de 600 cordéis, entre eles o clássico ‘‘O casal que engatou no Parque Industrial’’, o mais vendido de seu catálogo, que conta uma das lendas urbanas mais famosas de Natal.

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