domingo, 1 de fevereiro de 2009

TEXTO DA SEGUNDA 26/01/09 - EDIÇÃO DO POETA CEFAS CARVALHO

Mais uma vez mando o Texto da Segunda, o apanhado habitual de contos, poesias e etc que reúno para sua leitura, análise, crítica e diversão. Hoje, envio o seguinte:

1. Conto meu inédito no blog: "A flor e a pedra".

"Uma mulher como esta deve ter nome de flor, pensei, quando a vi pela primeira vez. Era o lançamento do livro de poesias de um amigo, e, entre o vinho e conversas tediosas, apercebi-me da mulher à minha frente.

Era linda, de pele leitosa e olhos indecisos entre o negro e o castanho. Cabelos negros presos em coque e um sorriso luminoso..."

Leia o conto inteiro em www.cefascarvalho.blogspot.com



2. "Narcisa", poesia de Iara Carvalho (para ler mais poesias dela acesse www.mulhernajanela.blogspot.com



3. ´Soneto natalense´ de Licurgo Carvalho e em resposta poética a este soneto, ´Figuraços imortais´ de Bob Motta



4. ´Uma morte é uma morte não é uma morte´de Moacy Cyrne www.balaiovermelho.blogspot.com







Narcisa

Iara Carvalho



agora que sou uma



mulher aprendida



no amor





recolho os frêmitos elaborados



frente às águas





e ao meu sono fluvial retorno



como uma sereia desativada



pra peixes e homens.







Soneto natalense



Licurgo Carvalho



Filha de uma Mãe Luíza qualquer,

Com cheiro nobre de Alecrim,

No Potengi, nasceste uma mulher,

Espraiada numa Cidade Jardim.



Mundana com os gringos na Ribeira,

No Beco, enche a cara de poesias e lama,

E sob a leveza de uma brisa costeira,

Oração ébria na candelária de quem ama.



Aventuras descabidas nas dunas do Tirol,

Cidade de esperança no oculto feminino,

Felações permitidas no concreto Mirassol.



Menina de Ponta Negra, crescida no carnaval,

Formidável comborça nas ruelas das Rocas,

Eterna noiva cascudiana, teu belo nome é Natal







FIGURAÇOS IMORTAIS.

Bob Motta



Em resposta ao soneto natalense,

o meu verso, no peito se alavanca.

Relembrando Maria Mula Manca,

executa pirueta de circense.



Ciço Prêto, Cambráia ou Corisco,

que dizia-se: Mordeu Frei Damião!

Respondendo cabeludo palavrão,

paranós, um regalo, um petisco.



Emoção na lembrança faz-me mudo,

relembrando, na Terra de Cascudo,

figuraços; Lambretinha e Gasolina.



Caboté, Cajú Azêdo, no Alecrim,

ou Maria Cachacinha, lembro enfim;

de Maria Barra Limpa e Severina...



Obs.- Dizia-se Embaixatriz do Brasil e prima da Rainha Elizabeth II...







UMA MORTE É UMA MORTE NÃO É UMA MORTE
Moacy Cirne

A morte de uma pessoa amiga não se faz fácil, por mais anunciada que tenha sido nos últimos meses. Não, não se trata da morte de uma criança e/ou de um jovem atingidos pela fome ou pelas bombas inimigas. Esta também, ou mais até, é uma morte dolorosa, terrivalmente dolorosa, assustadoramente dolorosa. Por ser absurda. Por ser irracional.

Mas a morte de uma pessoa amiga, de uma pessoa muito próxima da gente, tem uma dimensão cósmica que não se esgota em palavras de conforto, de bem-querer, de boa vontade. A rigor, tem uma dimensão cósmica que escapa ao próprio sentido da dor. Que escapa ao próprio sentido da vida, por mais que a vida continue. Para suas filhas. Para seu companheiro. Para seus irmãos e irmãs. Para seus amigos e amigas.

Porque é exatamente através da vida daqueles que ficaram - e ainda não partiram, e ainda não se encantaram - que a Sua vida continua entre nós: a memória de sua alegria, de sua fé, de sua ironia, de sua sinceridade, de sua determinação, de sua religiosidade é uma memória viva. E a lembrança que dela temos e teremos a fará viver para sempre, enquanto houver humanidade sobre a Terra, se não mais com a sua presença física, decerto com a sua presença intangível marcada pelas imagens do passado.

Assim é: uma presença intangível que se faz Natal. E que se faz Redinha e Ponta Negra, em noites de luar. Que se faz o cruzamento da Açu com a Afonso Pena, no antigo bairro da Solidão. Que se faz a Ponta do Morcego, em sua meninice. Que se faz a Igreja de Nossa Senhora de Fátima. E outras igrejas. Que se faz através de sua santa protetora: Nossa Senhora da Conceição. Tudo é vida, tudo é paixão. Mesmo que, neste momento, se faça o silêncio. Ou o "silêncio dos ventos" e o "silêncio de todas as cores", como diz o poeta Paulo de Carvalho no poema Ressuscitar-Te, em Cantabile, um livro publicado em Niterói em 2007.


E que se faz Vida. Porque é exatamente a vida de Margarida Miranda - uma batalhadora incansável - que suas filhas, seu companheiro, seus irmãos e irmãs (entre as quais, a minha companheira Fátima), e seus amigos e amigas não esquecerão jamais. Jamais. Mesmo que Natal, para todos nós, tenha morrido um pouco com a sua partida para outras terras e outras gentes.

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