segunda-feira, 9 de junho de 2008

JÓIAS DO PENHOR - BLOGGER DE ATHOS MIRANDA - SANTA MARIA/RS - AS MULHERES DE NÁDIO

Meus caros amigos.



Publiquei umas crônicas novas no blog abaixo.

Se alguém visitar, agradeço.



Abraços.



Athos



www.joiasdopenhor.blogspot.com


AS MULHERES DE NÁDIO

por ATHOS MIRANDA

Quando acionei a senha 69, ela veio toda espalhafatosa em direção ao guichê.
Uma morena bronzeada, cabelos extremamente curtos e olhos verdes. Uma pintinha ao lado da boca, igual a da Débora Secco, era, apenas, um detalhe. Estava ornamentada com meia dúzia de pulseiras em cada braço. Bijuterias de qualidade duvidosa.
Sem deixar de falar ao celular, sentou-se em minha frente. Parecia bem exaltada e a frase que ouvi não deixava dúvidas.
– Tu tem que dar um pontapé no traseiro daquela vagabunda!
Sem desligar o aparelho, me alcançou um contrato com umas quinze renovações presas por um clips e que estava vencido desde maio de 2007. Disfarçando um sorriso, pediu para ver quanto era a dívida.
Até então eu não tinha falado e acho que não iria, pois a morena continuava atenta ao celular e os ânimos, ainda, estavam exacerbados.
– Aquela ordinária vai torrar todo o teu dinheiro, pode crer. Tu não vai ficar com um mísero centavo no bolso.
Olhou para mim e perguntou quanto dera a cálculo.
– R$ 999,00. – respondi.
– Vou renovar, veja quanto dá para trinta dias.
Como o contrato estava em nome de outra pessoa, perguntei quem era Nádio. A morena respondeu, se esforçando para ser simpática, que era de um conhecido. O amigo estava doente e não poderia vir pessoalmente.
– A senhora poderá fazer a quitação, mas para retirar as jóias terá que ter a procuração do Nádio ou a autorização no contrato. Ok? – informei os procedimentos em caso de resgate.
Ela, ainda mantendo a ligação, franziu as sobrancelhas e mandou seu interlocutor visitar a Ponte de Paris. Em alto e bom som para todos ouvirem.
E, com a maior calma do mundo, dirigiu-se a mim.
– Meu caro, eu faço penhor há 10 anos, desde o tempo em que a Caixa se chamava Monte de Socorro, sei tudo sobre jóias no prego. – e continuou seu colóquio ao telefone.
Aí percebi que o tal Nádio estava no outro lado da linha.
– Tu sabe, Nádio, que de separação eu entendo. Deixei o meu Ex com uma mão na frente outra atrás. Fiquei com quase tudo. E o pobre coitado arrumou uma coroa gastadeira e vigarista que acabou torrando o pouco que havia deixado. Mas bem feito. Homem é tudo igual. E a tua também, se tu não te separar, ela vai detonar tudo o que te resta. E essa tua mulher não é flor que se cheire.
Fiz de conta que não percebi que o Nádio estava no telefone e recebendo moderados e sinceros conselhos acerca de sua vida conjugal.
– Outro dia eu vi a tua queridinha no shopping toda faceirinha. Parecia uma cadela no cio. Dando mole para todo mundo.
Pobre Nádio! As duas mulheres de Nádio. O que o coitado fez para merecer tanto... – pensei no clicar das renovações.
– Meu amor, só me liga quando tiver com o divórcio encaminhado. Certo querido. Tchau, meu bem. Ah! Lembrança pra mocréia.
Aí, sim, desligou o telefone.
– O senhor não acha que eu sou uma ótima conselheira?
– Sem dúvida... acho. – mas acho que ela não acreditou em minhas palavras.
– Sei... – foi o que ela respondeu.
Pagou a renovação com uma nota de R$ 100,00. E se levantou para ir embora. Nesse instante o celular toca de novo.
– Adivinha quem é?
– Nádio. – respondi sem maior interesse.
– Tu de novo seu corno! Não larga do meu pé.
E se foi aos berros, pouco se importando com os olhares desconfiados dos outros mutuários do penhor.
Pobre Nádio. Pelo menos a morena atualizou seu contrato. Mas eu fiquei com a impressão que pode ter sido em causa própria. O Nádio que se cuide.

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